Um lugar para pesquisar, passear
e ver a natureza preservada. Este lugar existe? Existe. Este local é a Flona,
Floresta Nacional de São Francisco de Paula, administrada pelo ICMBIO -
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Trata-se de uma
Unidade de Conservação de Uso Sustentável, com cobertura florestal de espécies
predominantemente nativas. O objetivo básico das Unidades de Uso Sustentável
é conservar a natureza usando, de
maneira sustentável, seus próprios recursos naturais. A FLONA localiza-se no
município de São Francisco de Paula, nordeste do Rio Grande do Sul, onde se
encontram os campos de cima da serra e as matas com araucária (ou Floresta
Ombrófila Mista ou Mata Atlântica). A região é uma das mais úmidas do estado,
com pluviosidade superior a 2.000mm e com temperatura média anual de
aproximadamente 14,5° C. Aqui faz calor no verão e no inverno tem geada e neve.
A Unidade tem uma área de
A trilha das araucárias
centenárias (com 4.490
metros ) está disponível aos visitantes, com o
acompanhamento de um guia da FLONA e agendamento prévio. E para lá fomos. O
caminho sinalizado dá acesso as araucárias centenárias (com mais de 400 anos) e
ao mirante, com vista para a Cascata da Usina (com 75m de queda), Perau do
Macaco Branco, floresta nativa e o povoamento de araucária, de 1946. Este
plantio de araucárias ocorreu em função do mercado madeireiro. As serrarias
cortavam as árvores, principalmente para exportação. As matas passaram a
desaparecer e na época, o Instituto Nacional do Pinho, estimulou o plantio das
araucárias para manejo florestal, mas o crescimento lento não despertou
interesse comercial. Então a espécie exótica pinnus (taeda e elliottii), de crescimento rápido (pode ser cortada em
oito anos) foi a opção para as serrarias e abastecimento do mercado. Assim a
floresta de nativas e araucárias foi preservada.
Quem nos levou para a caminhada
de observação de flora e fauna foi a agência Caminhos de Cima da Serra,
especializada em trilhas na região para caminhantes, que queiram interagir com
o ambiente e a cultura local. Das primeiras observações na FLONA-SFP foram os
reflorestamentos de Araucaria angustifolia (390 ha ), Pinus taeda e
P. elliottii (229 ha ),
Eucalyptus (34 ha ),
além de outras essências, com fins comerciais. Um total de 600ha mostram uma
cobertura vegetal heterogênea, que convivi em harmonia. A floresta
nativa ocupa mais de 900 ha .
Também ocorrem pequenos trechos de campo nativo e banhado. Este mosaico de ambientes
naturais e construídos resulta em uma considerável riqueza de espécies de fauna
e flora, que podem ser observadas ali. E assim os caminhantes chegam ansiosos
para iniciar a trilha.
O local também é muito procurado
pelos observadores de pássaros. Grupos do mundo todo têm, em São Francisco de
Paula, parada obrigatória. Destaca-se a grande riqueza da avifauna, composta
por mais de 210 espécies, residentes ou migratórias, além da presença de
mamíferos ameaçados de extinção, como o leão-baio (Puma concolor)
e o bugio-ruivo (Alouatta guariba).
Durante a caminhada é comum ver
pegadas de todos os tipos: cutia, gato do mato, assim como avistar jacus,
garças e ver marcas na terra de tatus, que fazem buracos para se esconder. Seja
dos homens ou dos animais predadores. A pegada mais esperada é a do leão baio e
do lobo guará, que foram vistos em armadilhas fotográficas.
Recentemente tem sido registrada a presença do lobo-guará (Chrysocyon brachyurus). Tanto em forma de avistamentos de indivíduo com filhotes, como registro fotográfico de indivíduo através de armadilhas fotográficas (que são analisadas um vez por mês).
Mais de 20% das espécies terrestres, da fauna ameaçada de extinção do Estado, já foram registradas na FLONA-SFP ou em seu entorno próximo, bem como espécies de árvores e arbustos ameaçadas. Com respeito a sua vegetação nativa, apesar desta sofrer grande influência da floresta atlântica, ela apresenta espécies de origem andina e antártica como, por exemplo, a casca d’anta (Drimys winteri) e a própria araucária (Araucaria angustifolia). Outra particularidade da Flona é ser um refúgio de plantas ancestrais, da época dos dinossauros, como os Lycopodium, que representam uma das classes mais antigas das plantas vasculares, a Lycopodiopsida. A espécie mais antiga desta classe surgiu há aproximadamente 380 milhões de anos atrás. As espécies atuais desta classe são rasteiras, mas no período carbonífero eram plantas gigantes. A espécie Lycopodium clavatum pode ser considerada uma sobrevivente destas antigas plantas vasculares.
E de repente
a mata fechada se abre para receber um senhor imponente, a primeira araucária
centenária. Araucárias são gimnospermas, plantas que possuem sementes nuas, e
que possuem raízes, caule e folhas. Além de ramos reprodutivos com folhas
modificadas chamadas estróbilos. Em muitas gimnospermas, como as araucárias, os
estróbilos são bem desenvolvidos e conhecidos como cones - o que lhes confere a
classificação no grupo das coníferas. Nessa planta
os sexos são separados: a que possui estróbilos masculinos não possuem
estróbilos femininos e vice-versa.
O estróbilo
masculino produz pequenos esporos chamados grãos de pólen. O estróbilo feminino
produz estruturas denominadas óvulos. No interior de um óvulo maduro surge um
grande esporo.
Quando um
estróbilo masculino se abre e libera grande quantidade de grãos de pólen, esses
grãos se espalham no ambiente e podem ser levados pelo vento até o estróbilo
feminino. Então, um grão de pólen pode formar uma espécie de tubo, o tubo
polínico, onde se origina o núcleo espermático, que é o gameta masculino. O
tubo polínico cresce até alcançar o óvulo, no qual introduz o núcleo
espermático.
No interior
do óvulo, o grande esporo que ele abriga se desenvolve e forma uma estrutura
que guarda o gameta feminino. Uma vez no interior do óvulo, o núcleo
espermático fecunda a oosfera, formando o zigoto. Este, por sua vez, se
desenvolve, originando um embrião. À medida que o embrião se forma, o óvulo se transforma
em semente, estrutura que contém e protege o embrião.
Nos
pinheiros, as sementes são chamadas pinhões. Uma vez formados os pinhões, o
cone feminino passa a ser chamado pinha. Se espalhadas na natureza por algum
agente disseminador, as sementes podem germinar. Ao germinar, cada semente
origina uma nova planta.
E assim a mata entra no seu ciclo
de regeneração. Mais passos e encontramos a araucária fêmea, uma senhora
majestosa com mais de quarenta metros de altura.
Outro trecho da trilha que chama
atenção é a “avenida de xaxins”. O xaxim é conhecido por seu crescimento lento
(1cm por ano) e por gostar de umidade. Nas décadas de 70 e 80, quase foi
dizimado pela moda de confeccionar vasos de xaxim para plantios de plantas
ornamentais. Atualmente a espécie está protegida por lei. Anos atrás, a área ao
redor desta “avenida” estava limpa, sem vegetação alguma. Nem mesmo estes
xaxins. Ali foram plantadas araucária, pinhão por pinhão (semente da araucária).
E junto com a araucária, a mata se reconstituiu. Numa floresta ombrófila mista
tudo gira em torno da araucária.
grupo que participou da caminhada |
Nesta imponente árvore tudo é
valioso, até mesmo o seu apodrecimento. As copas das árvores derrubadas nos
anos 60 eram deixadas na mata. Os galhos apodreceram e os nós que uniam os
galhos ao tronco, conhecidos com nó de pinho, parecem brotar da terra como
lenha calorífica, que ao ser queimada solta uma resina vermelha, típica dos
pinheiros.
Além das trilhas orientadas, diversas são as atividades desenvolvidas na FLONA SFP. A exploração dos recursos florestais visa uma produção madeireira média de 10.000 mst de madeira/ano, conforme previsto
Para maiores informações:
Floresta Nacional de São Francisco de Paula/RS
Unidade de Conservação Federal de Uso Sustentável
Caixa postal 79 CEP 95.400-000 São Francisco de Paula / RS.
Fone/fax: (54)3244 1347
Email flonasaofranciscodepaula.rs@icmbio.gov.br
Site: http://www.florestanacional.com.br
Site Oficial: http://www.icmbio.gov.br/menu/instituicao
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