Este texto "Catadores de pinhão , defensores
da araucária", foi escrito em 2008 e publicado na Revista Terra da Gente. Agora que é outono, vale a pena recordar. Boa leitura...
A
foto de Karine Klein |
A araucária já
esteve ameaçada de extinção , nas décadas de 50 e 60, quando
matas inteiras eram derrubadas
e sua madeira
exportada. Hoje a araucária ,
que produz pinhão
entre abril
e julho , está protegida por lei . Seu formato é singular :o tronco
ergue-se reto , sem
nenhum desvio
e se ramifica apenas no topo , formando a interessante copa ,
com os ramos
desenvolvendo-se horizontalmente , as pontas curvadas para cima ; superpostos uns aos outros ,
formando vários andares .
A rotina da família
Trentin acontece próxima à Mata de Araucárias . Plantar , criar boi , porco e até galinha . Tudo para garantir
o sustento mínimo
durante o ano .
Na temporada do pinhão ,
os homens da família ,
inclusive os meninos ,
se mobilizam para caminhar
entre o pinheral e examinar
pinheiro por
pinheiro . “Na verdade
a gente passa
o ano todo
cuidando as pinhas . Elas
bem pequeninhas e vão
crescendo . Vamos cuidando para
ver quando dá
de tirar ”, explica Selmiro. Quando
avistam a pinha no tamanho
certo , mais
ou menos
do tamanho de uma bola
de handebol (algumas chegam a parecer
uma bola de basquete ),
verde escuro
e presa entre
os galhos altos
da araucária , é hora
de preparar as “trepas” nas botas
para escalar o tronco de
aproximadamente 20 m de altura . O
diâmetro do caule
na base pode ultrapassar
2 metros e o da copa
10 metros . É aí
que Loivo Moraes
Trentin, 40 anos , filho
de Selmiro se prepara para
subir . “Subo em
pinheiro desde
guri e nunca
caí, mas tenho medo .
Na verdade é receio . Tem que cuidar a passada de um galho para outro e a descida
é muito perigosa”, conta
Loivo, também conhecido
como Nego .
Ele disse que ,
na média , são
20 pinheiros que
ele sobe e desce por
dia na temporada
de coleta . Trava
nas botas e mãos
no caule . As mãos
são protegidas somente
por um
saco ou
por um
pano . Lá
em cima ,
além de se firmar ,
tem que pegar
uma taquara de 5m (alcançada pelos ajudantes )
e com ela
empurrar as pinhas
até cair .
Maduras caem no chão e são recolhidas. As que
debulham precisam ter os pinhões
catados um por
um .
Na temporada do pinhão
(de dois a três
meses) o sustento da família está garantido com
a coleta . Em
média são oito mil kg recolhidos e vendidos na beira
de estrada , em
armazéns . “Este
ano não
tá bom , não
vai passar de dois mil quilos ”,
comenta Selmiro. Além de retirar
o pinhão das próprias terras , a família
também faz acordo
com outros
proprietários de pinherais. “Esta é uma época perigosa. O pessoal
vai entrando na terra dos outros
e tirando pinhão sem
permissão do dono .
Então os donos
nos chamam e pedem para
tirar as pinhas .
Fazemos uma partilha entre o proprietário e nós .
E assim vamos passando a temporada ”, fala
Selmiro. Nego completa
que nestas invasões ,
o pessoal rouba
o pinhão , corta cerca
e “mata animal .
Não é uma época
muito fácil ”.
Apesar de tudo
Nego não
pensa em
largar a coleta
de pinhão . “Aqui
a gente tá em
cima do que
é nosso . Enquanto
dá para viver bem , vamos ficando”. Os meninos ,
que ajudam são
filhos , netos ,
amigos dos netos ,
e ficam no chão ajudando a catar os pinhões .
Perguntados sobre a vontade
de subir no pinheiro ,
eles riem e dizem que
já se aventuraram, mas
que hoje
ficam no chão . “É perigoso ”,
completa Nego .
Outra regra
é que em
dia de chuva
ninguém sobe em
pinheiro . Se fica no galpão debulhando as pinhas ,
separando os pinhões e ensacando para vender .
A família Trintin não
tem visto derrubada
de araucária . “A lei
não deixa ,
né? Só louco
vai cortar ”, responde Selmiro. A preocupação desta família
é coletar seu
sustento entre
subidas e descidas
em pinheiros ,
num mato de barulhos
tão diferentes
dos habituais aos ouvidos
urbanos . Em
tempo de luzes
rarefeitas e debulhas freqüentes .
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